sexta-feira, 4 de junho de 2010

Shadows and light

Shadows and light

Sombras e luz. Cegueira e visão. A imagens iniciais mostram James Dean em frente a uma televisão. Imagens extraídas de Fúria de viver, de Nicholas Ray. «Todos os quadros têm sombras e alguma fonte de luz.» Joni Mitchell, recorde-se, desenha e pinta, para além de cantar. Sugere-se um universo pictórico que afinal nunca se chega, neste vídeo, a concretizar.
Filmado e gravado em 1980, Shadows and light centra-se numa actuação ao vivo da cantora canadiana, aqui acompanhada por uma formação de luxo constituída por Pat Metheny (guitarra), Jaco Pastorius (entretanto falecido, baixo), Michael Brecker (saxofone), Don Alias (bateria) e Lyle Mays (teclados).
Ao prazer musical proporcionado pela excelência dos intérpretes e ao reencontro com as palavras que Joni Mitchell, como poucas, tão bem sabe manejar, pouco mais há a acrescentar. Em termos visuais, aparece um coiote a correr desalmadamente pela neve, durante a interpretação de “Coyote”, do álbum Hejira. É muito pouco para uma obra (também) visual, da parte de uma mulher perita em mover-se no universo das imagens. Poderá encontrar-se justificação na tentativa de concentrar todas as atenções na música, mas para isso já existem os discos. Resta então apreciar o rosto luminoso e, nessa época, os caracóis da autora de obras fundamentais como The hissing of summer lawns, Don Juan’s reckless daughter e Mingus, ilustrativas da fase mais jazzística, seguindo uma linguagem que viria a revelar-se ideal para as sinuosidades e diversidade de registos característicos de uma voz e estilo inconfundíveis. Procurem-se aí a luz e sombras a que o título alude.

(Fernando Magalhães, Shadows and light, in Pop-Rock [Portugal], 13-02-1991. A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)