segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Michelle Mercer, entrevista


Já está disponível on-line a entrevista que Michelle Mercer, autora do livro Will you take me as I am: Joni Mitchell's ‘Blue' Period (Free Press, 2009), deu à NPR.
Ouvir aqui: http://xpn.org/mp3/world-cafe/michelle-mercer-august-2009.mp3

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Joni Mitchell/Led Zeppelin em Knebworth

Na edição de Setembro de 2009 da revista britânica Q, há um artigo sobre o concerto dado pelos Led Zeppelin, em Agosto de 1979, na localidade de Knebworth. Commander Cody, um dos artistas responsáveis pela primeira parte, descreveu o concerto dos Led Zeppelin como sendo um dos piores concertos a que alguma vez assistiu. Jimmy Page, por seu lado, diz: «Gostaríamos de ter tido na nossa primeira parte os Fairport Convention, os Dire Straits, os Little Feat ou a Joni Mitchell.»

domingo, 9 de agosto de 2009

Court and spark, por Stevie Nicks

Encontrava-me sozinha em casa do Keith Olsons [produtor dos Fleetwood Mac]. Ele tinha umas colunas enormes, talvez da minha altura, e o disco da Joni, que havia acabado de sair, andava por ali à vista, pelo que me decidi a ouvi-lo e assim o fiz durante três dias consecutivos. Fiquei surpresa com a sua habilidade de colocar imensas palavras numa só frase sem torná-la maçuda. Palavras sobre ser-se famoso, ou mulher numa indústria predominantemente masculina. E, por essa altura, já ela andava pelo mundo do espectáculo há algum tempo, mais do que eu, e havia saído com todas as estrelas de rock, que a admiravam pela sua capacidade poética e perícia instrumental. Era inaudito: ela havia-se introduzido no mundo dos rapazes e cantava já sobre a queda que mais tarde se verificaria à medida que o sucesso os ia marcando. E eu sabia que também nós iríamos ser muito famosos, muito ricos, e que tudo isso nos ia deitar abaixo. Por essa razão, quando ouvi esse disco, senti que este era uma premonição posta no meu caminho. Uma canção em especial, “The same situation”, tinha em mim um efeito devastador. Eu já sabia o que se aproximava.

(Stevie Nicks, The record that changed my life, Thoughts on Joni Mitchell's Court and spark, in Elle [E.U.A.], 28-06-2009 (tradução de Samuel Jerónimo). A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dança comigo até ao fim do amor

Leonard Cohen
Na minha modesta opinião, o melhor músico em digressão neste momento é um velhote de setenta e cinco anos, com enormes orelhas e uma grande papada que lhe escorre pelo pescoço abaixo. Se isso não vos soa bem, talvez seja melhor darem uma olhadela ao DVD Leonard Cohen: Live in London. (Tem estado a passar em alguns canais de televisão.) O homem é mesmo bom.
E por que estou eu a falar sobre o Leonard Cohen? Porque se o leitor viveu o tempo suficiente saberá que estas coisas dão voltas e voltas até que regressam ao ponto de partida.
Outra lenda, Joni Mitchell, também regressou há pouco ao meu pensamento por causa do novo livro de Michelle Mercer, Will you take me as I am: Joni Mitchell's ‘Blue' Period (Free Press, 2009). Dotada de uma espantosa habilidade no que à escrita de melodias e poesia confessional diz respeito, Mitchell foi a anti-deusa da minha juventude. Isto porque tinha uma imensa inveja sua, já que ao cantar sobre a sua vida, cantava também sobre a minha. Ela escrevia, eu escrevia; foi às grutas de Matala, na Grécia, eu também; foi a Ibiza, eu também; teve amantes, eu também; era rica, prezada e célebre; as comparações acabam aqui.
Muito do que Mitchell escreveu manteve-se e mudou a nossa cultura. “Both sides now” é um hino; a admirável e inquietante “River” foi tocada por dezenas de artistas. A filha de Bill e Hillary Clinton recebeu o seu nome devido ao fascínio dos seus pais por uma canção de Mitchell [“Chelsea morning”, Clouds (Reprise, 1969)]. No filme britânico O amor acontece, a personagem interpretada por Emma Thompson refere-se assim a Mitchell: «She taught your cold english wife how to love.» [Ela ensinou a tua fria mulher inglesa a amar.]
Com o desenrolar do tempo, Mitchell trocou a melodia pelas formas mais espontâneas que lhe foram sendo trazidas pelos vários músicos de jazz com quem trabalhou. Esta mudança causou o afastamento de uma boa parte da sua audiência e, actualmente, raramente faz concertos e tão pouco concede entrevistas.
Leonard Cohen e Joni Mitchell
Apesar de Mercer ter adoptado a postura de sua fã enquanto escrevia o seu livro, Mitchell continua a não sair bem na fotografia. Mulher difícil de agradar, Joni revela-se indelicada para com Jackson Browne, James Taylor, Dan Fogelberg, Madonna e Alanis Morrissette. Sobre esta última diz: «I don't see her as a great thinker, a great woman, a great anything.» [Não a vejo enquanto uma grande pensadora, uma grande mulher, uma grande qualquer coisa.] Mercer fica de tal forma desesperada com esta atitude que se força a incluir a secção “Stuff Joni likes or even loves”, e nesta inclui o bilhar (Mitchell gaba-se da sua aptidão), a escritora Alice Monro, algum Dylan, Van Gogh, o segundo quinteto de Miles Davis e Nietzsche.
Outra pessoa de que Mitchell gostou e que agora arrasta na lama é Cohen. A sua “Suzanne” convenceu-a a tentar escrever sobre personagens e, mais tarde, chegou mesmo a escrever sobre ele, referindo-se-lhe como o «holy man on the FM radio» que, em “Hallelujah”, «diz a verdade» quando canta «couldn't feel, so he tried to touch» [não conseguia sentir e que por isso tentou tocar]. Mas Cohen foi sempre um amante e não um lutador. Mitchell chega mesmo a afirmar que não acha que ele consiga escrever algo que contenha (as palavras) «naked body» [corpo nu].
Cohen tornou-se lendário graças à sua demanda pela beleza, mulheres e poesia. Em “Chelsea Hotel #2”, canção sobre fazer amor com Janis Joplin enquanto limusinas brancas esperam lá fora, escreve: «You told me again you preferred handsome men/but for me you would make an exception.../And clenching your fist for the ones like us/ who are oppressed by the figures of beauty/you fixed yourself, you said, ‘Well never mind/we are ugly but we have the music.» [Disseste-me novamente que preferes homens bonitos/mas que para mim abririas uma excepção/E ao dares a mão a pessoas como nós/oprimidos por um ideal de beleza/te consideravas enquanto tal, dizendo, ‘Bem, não faz mal/podemos ser feios mas temos a música.’]
Sim, eles tinham a música. Em «Hallelujah» escreve: «And even though it all went wrong/I'll stand before the lord of song/With nothing on my tongue but Hallelujah.» [E ainda que tudo tenha corrido mal/prostrar-me-ei ante o senhor da canção/Sem nada na minha língua que não Hallelujah.]
Cohen passou muitos anos a estudar zen e chegou mesmo a tornar-se monge. Porém, mais recentemente, descobriu estar com problemas financeiros. Depois de vários amargos de boca e processos legais, voltou a entrar em digressão. E, na sua já provecta idade, tornou-se na própria beleza que nos outros admirava. A sua música é agora mais arrebatadora e os seus concertos esgotam-se por todo o mundo.
Joni Mitchell e Leonard Cohen
Vivi recentemente a estranha experiência de ver bater o meu coração num monitor. Acerquei-me da fragilidade do meu corpo e da ideia de que as coisas de que mais gosto não serão minhas para sempre. É um lugar-comum, mas não deixa de ser verdade: não existe amor sem perda. Assim, cada dia, cada toque, cada beijo – até os telefonemas frenéticos da minha mãe – tornam-se mais preciosos. Sentir como transitório tudo isto é faz com que o meu passado ganhe uma importância maior que a por mim desejada. Como escreveu Mitchell há muito tempo, quando ainda em jovem: «And the seasons they go round and round/And the painted ponies go up and down/We're captive on the carousel of time/We can't return we can only look behind/From where we came/And go round and round and round/In the circle game.» [E as estações rodam e rodam/E os póneis pintados sobem e descem/Estamos cativos no carrossel do tempo/Não podemos regressar, apenas olhar para trás/De onde viemos/E andar às voltas e voltas/no jogo cíclico – “The circle game”, Ladies of the canyon (Reprise, 1970)].
Num clube famoso estão pintadas na parede as palavras «Music alone shall live» [Apenas a música viverá]. A música viverá certamente, mas e o amor? Cohen diz «Dance me to the end of love» [Dança comigo até ao fim do amor]. E nós? Não estaremos agora a dançar?

(Joyce Marcel, Dance me to the end of love, in Brattleboro Reformer [E.U.A.], 06-08-2009 (tradução de Samuel Jerónimo). A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)

Judy Collins no Newport Folk Festival 2009

Judy Collins tocou no passado domingo uma versão de “Both sides now”, de Joni Mitchell, no Newport Folk Festival.

Alinhamento:
- “Both sides now”;
- “Someday soon”;
- “Anathea”;
- “Oh, had I a golden thread”/”Where have all the flowers gone?”;
- “The weight of the world”;
- “The blizzard (Colorado song)”;
- “Amazing grace”;
- “Diamonds and rust”, aqui com a Joan Baez.

O concerto pode ser ouvido aqui:

Kilauren, Morning Morgantown

Vídeo onde Kilauren, a filha que Joni Mitchell deu para adopção no final dos anos ’60, canta a canção “Morning Morgantown”, originalmente incluída no álbum Ladies of the canyon (Reprise, 1970).