quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Tributo a Joni Mitchell, uma aposta ganha com brio

O primeiro tributo português à obra de Joni Mitchell foi uma aposta ganha. Nem mesmo alguns desacertos macularam o essencial: uma grande ideia para um grande espectáculo.

Joining Mitchell

O Grande Auditório do Centro Cultural de Belém recebeu dia 14 de Novembro, no âmbito do Misty Fest, pelas 21 horas, um espectáculo de tributo: Joni Mitchell celebrada pela voz de dez cantoras portuguesas: Aline Frazão, Amélia Muge, Ana Bacalhau, Cati Freitas, Fábia Rebordão, Luísa Sobral, Mafalda Veiga, Manuela Azevedo, Márcia e Sara Tavares.

Perante um auditório semi-lotado mas, devido à dispersão da audiência, aparentemente confortável, Joining Mitchell cativou o público que, numa noite de escolhas difíceis (no Coliseu estava Camané com um concerto previamente esgotado e no pequeno auditório do CCB estava Scott Matthew com Valter Lobo), quis ver como soava o tributo a uma das mais geniais criadoras da música popular contemporânea. E soou bastante bem.

Desde logo pela junção de boas ideias: o tributo em si, o título do espectáculo (Joining Mitchell é, na sua aparentemente simplicidade, um achado), a escolha das vozes, os músicos (um trio composto por Filipe Raposo, piano e direcção musical, Carlos Bica no contrabaixo e Carlos Miguel na bateria), a presença de António Jorge Gonçalves com os seus estimulantes desenhos ao vivo, ininterruptos, como cenário vivo ao fundo do palco.

Aliás, foi com António Jorge Gonçalves a transformar um retrato de Joni num sol de raios amarelos sobre fundo aquele que a noite começou, com Just like me em off. Depois começou, digamos assim, o “desfile” das cantoras, pensado de modo a que se cruzassem no palco, entrando umas, saindo outras, ficando às vezes para coros ou duetos. Foi, aliás, neste movimento que o concerto foi menos conseguido, ficando por vezes a sensação de que faltava algo nas ligações. Mas isso não ensombrou o resto.

Depois de Aline Frazão, a primeira cantora em palco, ter feito espreguiçar Chelsea morning numa tapeçaria jazzística, Cati Freitas aconchegou com desenvoltura Borderline e Fábia Rebordão usou a sua voz possante (de fadista) para carregar a fundo no pedal do rock em Coyote. Já sentadas, as três cantaram depois, num dos momentos harmonicamente mais bem conseguidos da noite, The circle game.

Esse foi o primeiro “round”. Depois, Ana Bacalhau (dos Deolinda) veio com For the roses, acompanhada em segunda voz por Amélia Muge, que entretanto se sentara discretamente do lado esquerdo do palco e, depois, cantou a solo Answer me, my love, a única canção da noite que não foi escrita por Joni Mitchell (é, aliás uma canção popular alemã com versão americana e muitas versões) mas faz parte do reportório dela. Por fim, Manuela Azevedo (dos Clã) avivou Ladies of the Canyon com os condimentos do seu próprio estilo, e Luísa Sobral, de guitarra a tiracolo e já com a harpa no palco, deu a California um embalo country (estava previsto que cantasse Goodbye pork pie hat, mas trocou de canção à última hora).

Marcie, do disco de estreia de Joni Mitchell (1968), foi transformada em instrumental para que o trio (Filipe Raposo, Carlos Bica e Carlos Miguel) tivesse ali o seu momento, mas com a letra presente: vimo-la a ser escrita no cenário por António Jorge Gonçalves, ao correr da música, sobre um fundo com dois sapatos de mulher num tapete vermelho.

Depois de Marcie, Márcia. E uma versão de Woodstock a emergir da melancolia num crescendo quase épico. Márcia voltou a ouvir-se, desta vez num dueto com Luísa Sobral, voz e harpa, noutro momento digno de nota: a “natalícia” River. Em seguida, Mafalda Veiga (de guitarra) apropriou-se, e bem, de Big yellow taxi e Ana Bacalhau cantou Amelia enquanto a arte de António Jorge Gonçalves simulava num céu de chumbo e num avião estilizado a desdita de Amelia Earhart (a pioneira da aviação americana que desapareceu nas águas do Pacífico e cujo destemor inspirou Joni).

Tal como na sequência Marcie-Márcia, também depois de Amelia veio Amélia. Com Both sides, now, primeiro com viola braguesa (que ela própria tocou e toca), depois com o piano de Filipe Raposo, Amélia converteu os “lados” de Joni ao reportório ameliano, deixando-lhe impressa a expressão pessoalíssima da sua paleta musical.

Quase a fechar, Sara Tavares veio acelerar o ritmo, primeiro num muito bem conseguido Help me, em dueto com Aline Frazão, e depois com Dreamland, polvilhado a África e soul. No meio, a levitação lírica de A case of you, com Manuela Azevedo no ponto certo. Por fim, já com todas as cantoras em palco, Free man in Paris fechou o espectáculo em ambiente de festa e serviu para as apresentações (as cantoras apresentando-se aos pares e apresentando depois, um a um, os músicos e demais intervenientes no espectáculo, da produção às luzes e ao som).

O encore, com o público a aplaudir de pé, trouxe de novo Just like me mas com enquadramento novo. No fundo do palco, já sem intervenção gráfica, foi projectado um vídeo a preto e branco de Joni Mitchell, então com 23 anos, a cantar Just like me na televisão do Canadá. E todas as dez cantoras ali, no CCB, a cantarem com ela: no refrão ou em contrapontos vocais. E em festa.

Se ali estivesse, Joni Mitchell (hoje com 70 anos) teria gostado. Porque se ela, ao longo dos tempos, tem regravado as suas próprias canções, acrescentando-lhes sempre algo de novo, também neste tributo não houve imitações ou réplicas, antes apropriação criativa por parte de cantoras que deram bom caminho aos temas que escolheram. Caso lhe dêem nova vida, em palco ou disco, este é daqueles projectos que merece ter futuro.

(Nuno Pacheco, Tributo a Joni Mitchell, uma aposta ganha com brio, in Público [Portugal], 17-11-2013. A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Joining Mitchell - Um tributo a Joni Mitchell

Amélia Muge, Aline Frazão, Ana Bacalhau, Cati Freitas, Elisa Rodrigues, Fábia Rebordão, Luísa Sobral, Mafalda Veiga, Manuela Azevedo, Márcia e Sara Tavares são as cantoras que subirão ao palco do CCB para este tributo português a Joni Mitchell, no próximo dia 14 de Novembro.

sábado, 10 de setembro de 2011

Roberta consegue enquanto Joni

O professor primário de Roberta Joan Anderson disse-lhe: «Tu gostas de pintar com pincéis e cores. Um dia gostarás de pintar com palavras.»
Doze anos depois, essas palavras revelaram-se proféticas. Roberta, agora Joni Mitchell, lançou o seu álbum de estreia e, através dele, ascendeu a um lugar cimeiro entre os poetas musicais.
Numa crítica recente a um concerto que deu em Detroit, foi comparada ao guru do género, Bob Dylan. A recensão foi ao ponto de colocá-los lado a lado no que diz respeito à «riqueza e profusão imagética… ultrapassando-o na precisão e direcção presentes nas suas letras».
Mitchell, que se apresentará domingo, pelas 20h30, no Salle Wilfrid-Pelletier of Place des Arts, nasceu a sete de Novembro de 1943, em McLeod, Alberta. Iniciou os seus estudos em Saskatoon, Sask, e começou a abraçar as artes ainda enquanto aluna do Alberta College of Art, em Calgary.
Pouco tempo após ter comprado um ukelele «apenas para passar o tempo», descobriu que podia ganhar algum dinheiro a cantar canções folk em cafés locais.

(Anónimo, Roberta makes it as Joni, in Montreal Gazette [Canadá], 28-06-1969 (tradução de Samuel Jerónimo). A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)

sábado, 3 de setembro de 2011

Both sides now [Wordle]

Both sides now
Letra da canção “Both sides now”, tal como tratada via Wordle.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Joni's Jazz, Califórnia









«Our house, is a very, very, very fine house»
 

«Oh to live on Sugar Mountain»


Topanga Canyon



«But I couldn't let go of L.A., city of the fallen angels»