domingo, 9 de agosto de 2009

Court and spark, por Stevie Nicks

Encontrava-me sozinha em casa do Keith Olsons [produtor dos Fleetwood Mac]. Ele tinha umas colunas enormes, talvez da minha altura, e o disco da Joni, que havia acabado de sair, andava por ali à vista, pelo que me decidi a ouvi-lo e assim o fiz durante três dias consecutivos. Fiquei surpresa com a sua habilidade de colocar imensas palavras numa só frase sem torná-la maçuda. Palavras sobre ser-se famoso, ou mulher numa indústria predominantemente masculina. E, por essa altura, já ela andava pelo mundo do espectáculo há algum tempo, mais do que eu, e havia saído com todas as estrelas de rock, que a admiravam pela sua capacidade poética e perícia instrumental. Era inaudito: ela havia-se introduzido no mundo dos rapazes e cantava já sobre a queda que mais tarde se verificaria à medida que o sucesso os ia marcando. E eu sabia que também nós iríamos ser muito famosos, muito ricos, e que tudo isso nos ia deitar abaixo. Por essa razão, quando ouvi esse disco, senti que este era uma premonição posta no meu caminho. Uma canção em especial, “The same situation”, tinha em mim um efeito devastador. Eu já sabia o que se aproximava.

(Stevie Nicks, The record that changed my life, Thoughts on Joni Mitchell's Court and spark, in Elle [E.U.A.], 28-06-2009 (tradução de Samuel Jerónimo). A publicação deste texto insere-se na política Fair use.)